Fazia 6meses que Jaime e Maria haviam posto fim à sua fogosa paixão. Durante esses 6meses, não haviam contactado uma única vez e nem sequer haviam tropeçado um no outro na rua por acaso.
Mesmo nunca mais tido visto Jaime, Maria continuava a sentir um enorme amor por ele e por isso mesmo, não deixava de pensar nele um dia que fosse.
Jaime, por sua vez, havia reestabelecido a sua vida amorosa junto de outra mulher, no entanto, as saudades de Maria aumentavam, mesmo este tentando disfarçá-las.
Era sexta-feira à tarde. Maria estava de folga e tinha decidido ficar por casa a cuidar de si visto que desde que rompera com Jaime nunca mais tinha tido ânimo de cuidar-se. Estava Maria no seu closet, sentada na cadeira em frente do espelho a pôr os cremes que fazia questão de colocar depois do banho, quando a campainha toca. Maria levantou-se e dirigiu-se à porta, espreitou pela janela. Era o carteiro.
"Bom dia minha senhora, trago-lhe um telegrama." - disse o carteiro.
"Um telegrama? Que estranho..." - disse Maria.
"Assine aqui por favor" - disse o carteiro.
"Muito obrigada. Bom dia." - disse Maria depois de ter assinado e recebido o envelope.
Maria fechou a porta, recostou-se no cadeirão que tinha no wall de entrada e observou o envelope. Não tinha remetente. Maria achou estranho e apressou-se a abrir o envelope. O envelope continha uma passagem de avião para Santa Cruz de Tenerife, Norte de África, e um bilhete. Desdobrou o bilhete e leu: Maria, parti hoje bem cedo para Tenerife. As saudades de ti são muitas. Não consigo passar nem mais um dia longe de ti. És tu que eu quero por perto. Preciso de sentir o teu cheiro, tocar no teu rosto, olhar-te nos olhos. Espero-te cá daqui a dois dias. Amo-te. Não sei viver sem ti. Jaime.
Ao ler isto, Maria ficou estática, sem reacção. Depois de alguns minutos assim, as lágrimas precipitaram-se dos seus olhos deslizando pela sua face. Um sentimento de mágoa juntamente com alegria assolaram o coração de Maria o que fez com que ficasse zonza sem saber o que responder à proposta de Jaime. O choque levou a que Maria adormecesse no cadeirão e só voltasse a acordar horas depois.
Quando Maria acordou pensou que tudo não tinha passado de um sonho. Apenas quando olhou para o seu lado e viu que lá estava a bilhete que Jaime havia-lhe enviado, é que teve certeza que o que havia vivido há horas atrás tinha sido mesmo verdade. Levantou-se do sofá e foi mergulhar debaixo das águas do seu chuveiro pois pensava que seria a melhor forma de organizar as ideias na sua cabeça. Sabia que não valeria a pena falar com ninguém sobre isto pois a decisão tinha de ser única e exclusivamente sua e não poderia ser influenciada por terceiros.
Depois do seu segundo banho, já vestida, Maria dirigiu-se à varanda de sua casa que a permitia vislumbrar um pasto verde que havia nas traseiras da sua vivenda. Era já noite, Maria apenas conseguia observar o que a lua cheia daquela noite lhe permitia. Ficou ali a olhar para aquela encosta escura e pintada de verdes escuros, reflectindo sobre o que haveria de fazer. Estava perante um dilema: voltaria para junto do homem da sua vida e esquecia o passado? Ou levaria a sério o que Jaime lhe havia dito quando partiu naquele dia que a sua relação acabou?
Como já era tarde, Maria decidiu deitar-se. A sua cabeça ainda estava muito confusa e a sua cama seria o local ideal para reconfortar o corpo e a mente.
Maria passou horas e horas, pela madrugada dentro, a rebolar na cama. Jaime havia-lhe tirado o sono muitas noites durante os seis meses que estavam separados, e hoje não havia sido excepção. No entanto, depois de tantas voltas, o cansaço tomou conta do seu corpo e fez com que esta adormecesse. Como o dia seguinte era sábado, Maria permitiu-se a si própria dormir até mais tarde. Ao fim da manhã, acordou sobressaltada depois de um pesadelo que havia tido resultante de todas as confusões que haviam passado pela sua cabeça na tarde do dia anterior. Maria sentiu-se aliviada por ter acordado daquele pesadelo, mas também, de certa forma, em pânico por a data se estar a aproximar e ainda não havia tomado uma decisão sobre que rumo dar ao seu futuro.
Quando se preparava para levantar da cama, Maria reparou no lenço que Jaime havia-lhe oferecido numa das viagens que haviam feito juntos a Marrocos. Viagem esta que Maria recordava sempre como mágica. Ao lembrar este episódio, as dúvidas de Maria dissiparam-se, sabia que desejava e amava Jaime como ninguém. Assim, Maria apressou-se nos preparativos para a sua partida. Não sabia quanto tempo lá iria ficar, por isso a mala que iria fazer seria pequena. Arranjou-se, tratou da bagagem, ligou à sua mãe para que lhe tratasse das suas plantas enquanto estivesse fora e finalmente, ao fim da tarde partiu para o aeroporto.
O voo era tarde e faria escala em Marrocos, por isso Maria só chegaria ao seu destino no dia seguinte a meio do dia. Quando o avião se preparava para descolar, Maria procurava na sua mala uma chiclete para que os ruídos da descolagem do avião não a perturbassem. Ao vasculhar a sua mala, constatou algo que estranhara, quando colocou aquele objecto desconhecido ao seu tacto no seu campo de visão, deparou-se com uma caixa de veludo, azul. Ao abri-la deparou-se com um anel. Maria já conhecia este anel, tinha sido um presente de Jaime quando estes haviam comemorado 1ano que estavam juntos. Este facto fez Maria ansiar ainda mais a sua chegada a Tenerife.
Após muitas horas, Maria chegou finalmente ao seu destino. Apenas sabia o nome do hotel onde Jaime estava hospedado. Por isso mesmo apressou-se a apanhar um taxi que a levasse até ao amor da sua vida.
O hotel mostrou-se ainda um pouco distante do aeroporto, mas Maria vislumbrava as belas praias pelas quais passava e quando deu por si, já tinha chegado ao seu destino.
Pagou o taxi e precipitou-se para o interior do hotel. Lá, questionou o empregado da recepção acerca da estadia de Jaime naquele hotel. O empregado informou Maria que Jaime havia deixado a informação com ele de que, quando Maria chegasse, para se deslocar ao areal da praia do hotel.
Maria pediu ao empregado que conservasse a sua bagagem enquanto ela ia ao encontro de Jaime na praia. Posteriormente, ela apressou-se a chegar ao areal. Ainda era cedo e o areal estava deserto. Maria não sabia se havia de se deslocar para este ou oeste da praia, por isso resolveu aproximar-se da água para que tivesse uma visão mais longínqua da praia.
Quando Maria se aproximava das águas límpidas da praia, parou uns minutos a admirar o infinito de mar que tinha à sua frente. De repente sentiu um vulto colada a si, virou a cara e viu Jaime. Maria não teve outra reacção senão abraçar fortemente Jaime. Ambos se mimaram mutuamente durante minutos a fio. Após algum tempo, a cumplicidade entre eles já se fazia notar novamente. A troca de sorriso era constante. A certa altura Maria desatou a correr pelo areal. Jaime precipitou-se da areia e foi atrás de Maria. Quando finalmente apanhou Maria, Jaime beijou-a fugazmente e os dois caíram no areal. Jaime olhou Maria nos olhos e disse: Nunca mais te vou deixar ir embora.
E ambos ficaram horas e horas colados um ao outro apenas a admirar a paisagem que os rodeava.
FIM
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